domingo, 15 de setembro de 2019

BUFARDA - ATOUGUIA DA BLEIEA / UM CASO DE JUSTIÇA POPULAR


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BUFARDA – ATOUGUIA DA BALEIA
UM CASO DE JUSTIÇA POPULAR

No início dos anos cinquenta na aldeia da Bufarda, aconteceu um caso invulgar; fez-se justiça popular. Numa das madrugadas, quase todo o povo da aldeia, se levantou, protagonizou ou o viveu apenas.
Ainda bastantes pessoas se recordarão do caso, dado que ainda viverão alguns protagonistas.
Além de que configura crime, o caso evidentemente, prescreveu.
Esta crónica, valendo-me de uma memória, que julgo privilegiada, tem o fim de avivar memórias.
Aconteceu assim:
- O Luís “Sintenças” tinha comprado uma junta de bezerras e estando a criá-las, tornara-se já seu abegão.
Numa das madrugadas, como hábito, estava no poço da barroca, a abastecer-se de água, já que os animais ruminantes necessitavam de ser tratados cedo, em virtude de ao nascer do sol, tal como os todos os camponeses, desse tempo, iniciarem o dia de trabalho.
A noite estava bem escura, a determinada altura, “Sintenças” escutou um barulho esquisito. Bem quieto, encostara-se e observou um vulto trepar o muro da casa, que então era do Sertório. Embora ainda rapaz novo, resolveu alertar o Pinto, (o irmão do meio do “Cireta”) outro rapaz do seu tempo.
Já acompanhado, voltou a ver o vulto, pular o muro, de regresso, foi então que o enfrentaram; era o “Carocho”, conhecido, por ter a casa no Vale da Serra. Era o pai da criada do Sertório, e dizia-se à boca pequena, que seria amante desta, o que configuraria um incesto.
Como o Sertório, armazenava os víveres, numa dependência, de fora da casa de habitação, aquele com a conivência da filha, tornara-se parceiro no consumo. Daquela vez esquecera-se do toucinho e voltara atrás para o recolher.
Foi nessa volta que despertara o “Sintenças”. A breve trecho já muitos bufardenses estavam ali despertos, então houve um “concerto” de paulada, o “Carocho” foi obrigado a explicar muito bem como fazia toda a manobra ao ritmo do “jogo” do pau.
A manhã aproximava-se, cada qual regressou a casa, o “Carocho”, enfim liberto!
Ninguém mais falou disso… Fez-se então justiça popular na Bufarda!

Daniel Costa