BUFARDA – ATOUGUIA DA BALEIA
UM CASO DE JUSTIÇA POPULAR
No início dos anos cinquenta na
aldeia da Bufarda, aconteceu um caso invulgar; fez-se justiça popular. Numa das
madrugadas, quase todo o povo da aldeia, se levantou, protagonizou ou o viveu
apenas.
Ainda bastantes pessoas se
recordarão do caso, dado que ainda viverão alguns protagonistas.
Além de que configura crime, o
caso evidentemente, prescreveu.
Esta crónica, valendo-me de
uma memória, que julgo privilegiada, tem o fim de avivar memórias.
Aconteceu assim:
- O Luís “Sintenças” tinha comprado
uma junta de bezerras e estando a criá-las, tornara-se já seu abegão.
Numa das madrugadas, como
hábito, estava no poço da barroca, a abastecer-se de água, já que os animais
ruminantes necessitavam de ser tratados cedo, em virtude de ao nascer do sol,
tal como os todos os camponeses, desse tempo, iniciarem o dia de trabalho.
A noite estava bem escura, a determinada
altura, “Sintenças” escutou um barulho esquisito. Bem quieto, encostara-se e
observou um vulto trepar o muro da casa, que então era do Sertório. Embora
ainda rapaz novo, resolveu alertar o Pinto, (o irmão do meio do “Cireta”) outro
rapaz do seu tempo.
Já acompanhado, voltou a ver
o vulto, pular o muro, de regresso, foi então que o enfrentaram; era o “Carocho”,
conhecido, por ter a casa no Vale da Serra. Era o pai da criada do Sertório, e
dizia-se à boca pequena, que seria amante desta, o que configuraria um incesto.
Como o Sertório, armazenava
os víveres, numa dependência, de fora da casa de habitação, aquele com a
conivência da filha, tornara-se parceiro no consumo. Daquela vez esquecera-se
do toucinho e voltara atrás para o recolher.
Foi nessa volta que
despertara o “Sintenças”. A breve trecho já muitos bufardenses estavam ali despertos,
então houve um “concerto” de paulada, o “Carocho” foi obrigado a explicar muito
bem como fazia toda a manobra ao ritmo do “jogo” do pau.
A manhã aproximava-se, cada
qual regressou a casa, o “Carocho”, enfim liberto!
Ninguém mais falou disso…
Fez-se então justiça popular na Bufarda!
Daniel Costa