terça-feira, 13 de novembro de 2018

HORTA DO ARNEIRO


 A imagem pode conter: 1 pessoa, a sorrir, em pé, oceano, céu, ar livre, natureza e água
 HORTA NO ARNEIRO

Apesar do meu desenraizamento, porque Lisboa teve sempre lugar de destaque nos meus anseios e velhos sonhos a Bufarda, aldeia do Oeste, onde nasci e me criei não pode ser esquecida. 
Tanto assim é, que a tenho referido em vários artigos do "JORNAL DA AMADORA", sendo-lhe um dedicado, especialmente.
As vezes que por lá passo são inferiores às recordações guardadas e que, aos poucos espero publicitar, mais como aventuras, já que procuro acompanhar os tempos modernos, com eles delicio-me  
Por volta dos dezoito anos, olhando a courela do Arneiro com bastante água, de restolho no Verão. Ao invés de produzir continuamente, explorando-se a riqueza da água, parece ter entrado no desinteresse do pai.
Assim propus, primeiro ao meu irmão criar ali, de novo a horta a dar que falar.
Este disse: 
- Vê lá em que te metes!..        
- O pai não vai gostar!...           
- Como resposta obteve:         
- Ele não vai saber!         
De seguida falei do projecto à mãe, que sem delongas se entusiasmou.
Resultou um convénio: 
- Produtos da horta:
- O que fosse necessário para, a família.  
- Verba a  realizar:          
- Metade para a casa a outra parte dividida entre mim e o meu irmão.
A horta perante o pai seria clandestina e seria trabalhada nas horas vagas, que tinha de incluir os próprios dias de Domingo.
Naquele Verão, conseguira trabalho sazonal no arranjo da estrada, Lourinhã – Ribamar, o que facilitava, visto o trabalho ser de oito         horas, em lugar do sol a sol   
Sobrava tempo útil para tratar da horta!  
Tudo estava a dar certo, parece que tudo era bem orientado, até que num certo Domingo, numa das tabernas locais, que na altura vendiam de tudo e os homens se encontravam, para confraternizar, beber uns copos e tratar de assuntos, o pai foi abordado por alguém com a conversa seguinte:
- Zéi a tua horta do Arneiro está a ficar um espanto.   
Espantado e admirado ficou o Zéi, mas pelo sim pelo não, depressa foi agarrar a habitual enxada e de imediato deu uma saltada à fazenda.
De facto, estava já a apreciar um belo panorama hortícola, numa propriedade sua sem disso se ter apercebido.          
Entusiasmado com o que viu, entrou de colaborar sem recriminações. A partir daí, era o primeiro colaborador    
No Domingo seguinte pressuroso, foi fazer a habitual rega. 
Eu a ver gostosamente e a descartar-me dessa obrigação.
Só à ceia (ao tempo era assim designado o jantar), o pai ufano disse:
Uma horta daquelas, se não fosse eu, ao Domingo ninguém se lembrava de a regar. Era uma recriminação amigável, mas o gozo que isso dava, tinha de ser refreado.         
A horta pode dizer-se como agora, era biológica          
- O terreno foi enriquecido com estrume, que levávamos do quintal, aos ombros em cestos de verga. O próprio terreno estava um mimo.
Eram partes de vazias e de imediato cobertas com nova produção. Havia de tudo o que se gastava ou transaccionava.  
Até que, fui cumprir o Serviço Militar e pensava ter construído, com a horta um prazer enquanto eficaz meio de rendimento.        
Qual quê?   
- Faltou o animador e apesar de terem ficado dois seguidores, apenas foi gerido o que estava em processo de imediato desenvolvimento.
De resto adeus horta!   
Confesso a minha total desilusão, acentuando mais o meu desejo de recomeçar vida nova a trabalhar em Lisboa.     
A partir daí, deixar rapidamente a Bufarda foi o cumprir do sonho enquanto antídoto.        

Daniel Costa

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