Aqui
está uma travessa de um serviço de loiça da minha mãe, que guardo como
recordação. Os cacos foram juntos por colagem, já não estava em casa. O
resultado é um desastre, como se pode ver. Garanto que o arranjo feito
por mim, pelo processo de gateamento, se vista a travessa deste jeito,
não se notaria o arranjo.
CONCERTAR LOIÇA POR GATEAMENTO
Devo
ter nascido otimista, isso deve ser uma das minhas facetas congénitas,
Estou no direito de achar isso a minha principal qualidade, esperando
mantê-la até ao fim.
Eis o preâmbulo desta charla, para que não se pense estar aqui um saudosista.
Não se trata disso, visto que adotei desde criança o lema - "recordar é viver".
Depois
de ter saído da escola primária e de até já ter cumprido, a rogo do meu
pai, alguns atos de votação, até para as presidenciais a eleger o
Senhor Higino Craveiro Lopes, as circunstâncias e a própria índole
levaram-me a nunca ter brincadeiras, que não fossem sérias imitações
do quotidiano dos adultos.
Foi assim que, não teria mais de onze anos, comecei a restaurar a loiça que se partia em casa.
Daí foi nascendo alguma clientela e consequentemente os meus primeiros centavos.
Recordo
que o meu poder de imaginação era pouco menos do que prodigioso, uma
vez que a ferramenta existente era apenas um martelo.
Com o mesmo achatava pontas de velhos arames de aço, que metodicamente, enfiava em cabos de madeira da minha própria autoria.
A
primeira ferramenta servia para bater velhos arames, achatando-os,
partindo-os aos pedaços e dobrando-os em ângulos retos nas pontas.
Chamavam-se gatos.
Numa
segunda fase, já com a broca fazia vários furos nos cacos da loiça.
Depois unia os mesmos por inserção, desses “gatos”; feitos de pedacinhos
de arame.
No
fim alindava os mesmos com cal branca (havia sempre em casa), até que
novo trambolhão os fizessem em bocadinhos mais exíguos, sem mais
concerto.
Imaginação, para arranjar alguns cobres, estava sempre a aparecer!...
Daniel Costa
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