LIMPEZA DO SARRO NOS TONÉIS
O Avô fora ferreiro, ao mesmo tempo era um pequeno industrial de agricultura, incluindo culturas vinícolas.
Tinha adega com lagar, um grande tonel com aduelas de madeira, por já não lhe fazer falta vendeu o maior por oitocentos escudos, uma quantia elevadíssima para a época.
Tinha adega com lagar, um grande tonel com aduelas de madeira, por já não lhe fazer falta vendeu o maior por oitocentos escudos, uma quantia elevadíssima para a época.
A grande vasilha de vinte pipas, de vinte e cinco almudes cada, sendo o almude uma unidade de vinte litros.
Saiu pela porta da adega em quatro partes, com as respetivas aduelas tiradas dos arcos e pregadas a vimes.
Tal era a sua grandeza!
Saiu pela porta da adega em quatro partes, com as respetivas aduelas tiradas dos arcos e pregadas a vimes.
Tal era a sua grandeza!
Agora
o avô, que ficara entrevado aos quarenta anos, foi delegando ocupações
aos filhos o mais velho ficara com ofício de ferreiro, o a seguir, o meu
pai o abegão (tratador e trabalhador com os bois) o seguinte também
aprendeu o ofício, o quarto foi carpinteiro, o quinto trabalhador. Mais
três raparigas, donas de casa.
Quando
andava na escola havia a adega, lembro-me do grande tonel e da sua
venda, mas ainda ficaram outros tonéis menores que eram cheios com a
produção de uma das vinhas que ficara sempre para o avô cuidar do
cultivo.
Produzia para venda e prover produtos para casa.
Produzia para venda e prover produtos para casa.
O lagar era alugado a quem o solicitasse, ao custo diário de um almude de vinho que também ali ficava armazenado.
A seu tempo, procedia à trasfega do vinho.
A borra que produzida, era retirada, vendida a um comerciante do ramo, que trazia sacos brancos, onde metia o produto para transformar, creio que em bagaceira.
A borra que produzida, era retirada, vendida a um comerciante do ramo, que trazia sacos brancos, onde metia o produto para transformar, creio que em bagaceira.
Depois
de vendido, o vinho e consequentemente esvaziados os tonéis, era
necessário proceder à sua criteriosa limpeza, coisa de que o avô sempre
fora exímio, pois disso dependia em muito a qualidade do sabor do
produto.
Saia sempre um verdadeiro néctar, com influência no preço, que o teor do mesmo justificava.
Saia sempre um verdadeiro néctar, com influência no preço, que o teor do mesmo justificava.
Tempos diferentes!...
Começava
por mandar raspar o interior dos toneis, afim de tirar todo o que
chamava “sarro”: era ai que eu entrava depois de solicitado o meu
serviço ao pai.
Entrava
dentro do tonel, por uma abertura que havia em todas as unidades, com
uma escotilha, aberta logo que vazios, em cuja podia ser aplicada uma
torneira em cavidade própria, até então tapada por uma rolha de cortiça
ou por meio de um torno de vime, metido num pequeno furo produzido para o
efeito, por uma verruma, para provar ou medir a graduação do vinho.
Dentro
do tonel, era para mim um novo mundo, uma interessante aventura
assinalada com cânticos, que dentro da vasilha soavam de maneira
diferentemente estranha e ampliada, que até o avô sempre sorridente e
cheio de complacência, na sua inegável austeridade, devia gozar enquanto
de fora ia comandando a operação, com as suas interjeições ternas de
comando:
- Olha limpa bem por cima!... Já limpastes bem do lado direito!... E do esquerdo!... Agora raspa e limpa bem debaixo!...
Depois
uma vassoura, para varrer tudo, para uma pá que o avô segurava de fora,
depois deitava num saco, voltando com a mesma para encher de novo.
Tudo impecavelmente limpo, como era lei da casa.
O avô com contentamento dava, como prémio, uma moeda de cinquenta centavos.
O avô com contentamento dava, como prémio, uma moeda de cinquenta centavos.
Como tudo produzia dinheiro, dali por algum tempo passaria um comprador para o “sarro”, o mesmo era acastanhado e brilhante.
Julgo saber que dele se extraía um químico.
Daniel Costa
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