quinta-feira, 13 de setembro de 2018

FABRICANTE DE JOGOS DE MATRAQUILHOS

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FABRICANTE DE JOGOS DE MATRAQUILHOS

Nos anos cinquenta, do século passado, era recorrente em qualquer tasca haver jogo de matraquilhos.
Na aldeia da onde nasci e vivia, a umas dezenas de quilómetros a norte de Lisboa, um desses exemplares criava verdadeiros cracks.
Ver jogos era o gozo da miudagem, a quem faltavam os cinquenta centavos para participar.
Incapaz de não fazer qualquer coisa a propósito, inventei produzir a minha mesa de jogo.
Se bem pensei, melhor o fiz:
- Construído de uma peça velha de madeira, que havia pelo quintal, saiu o tabuleiro.
A representação dos vinte e dois jogadores, mais os suplentes, foi feita de bocados de madeira escolhidos e serrados, nas medidas exactas em conformidade, de montanos (molhos de ramos de pinheiros) dos que a mãe comprava para aquecer o forno a fim de cozer o pão,
Esses pedaços, foram rapidamente "burilados", com uma faca para constituírem os bonecos, que foram pintados das cores do Sporting e do Benfica.
A bola era regulamentar, andava lá por casa.
Ainda nesse Domingo do acabamento, o jogo funcionou no quintal, à vista de todos, porque era uma das minhas facetas mostrar a obra que fazia, só por isso.
No entanto atraiu a garotada, que depressa queria também jogar.
Claro que o facto trouxe nova dimensão e nesse próprio dia atribui o preço de dez centavos por cada jogo, composto de nove vezes que a bola entrasse na baliza.
Estava criada uma maneira de arranjar uns trocos, a mesa era muito rudimentar para o meu gosto.
Então fabriquei outro jogo com a madeira de caixotes de sabão.
Para os bonecos, não foi necessário alterar a forma, as cores tinham de sair das mesmas latas de tintas, era incomportável comprar outras.
Saíram as do Vitória de Setúbal e do Lusitano de Évora a militarem então, com algum prestígio, na primeira divisão.
Branco para os calções, como os do Benfica, riscas verdes verticais, para uns e verticais para outros.
Motivado, idealizei um terceiro jogo.
Desta vez, ainda com mais realismo, isto é:
- Já com todas as nove bolas, que ao entrar na baliza, encaminhavam-se para uma cavidade interna.
Saiam, para novo jogo por meio de um arame com um gancho numa das pontas entrando num furo. Dentro movimentava uma portinhola a fazer saírem as bolas.
Tinha entretanto, aprendido o princípio de ao meter a moeda saírem as bolas mecanicamente. Porém os meus rudimentares meios não davam para mais.
As equipas voltaram a ser, Sporting e Benfica.
Os varões eram já de caniço, porque deduzi que, afinal estava encontrado o melhor material, para o efeito.
Bonecos produzidos sempre da mesma maneira. O custo por jogo é que passou a vinte centavos.
O primeiro exemplar foi desactivado, enquanto simultaneamente ficaram a funcionar dois jogos.
Preços:
- Para todas as bolsas; um tostão e dois tostões.

Daniel Costa

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